BIBLIBLOGUE ESJAC - TAVIRA

Blogue da Biblioteca da Escola Secundária do Agrupamento de Escolas Dr. Jorge Augusto Correia - Tavira. "LER É SONHAR PELA MÃO DE OUTREM." Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego.

sábado, 6 de março de 2010

Uma leitura de «Gente Singular», de Manuel Teixeira Gomes

Quem nunca viu o capote usado pelas mulheres algarvias e a volta que elas dão à ampla gola em redor da cabeça para fazer o que chamaram rebuço, quem nunca viu na rua ou igreja esses monstros apocalípticos não poderá julgar da propriedade com que eu, para mais desprevenido, capitulei as três estranhas aparições de ursos com tromba de elefante.


«Gente Singular»parece ser uma história pequena e de fácil leitura. Uma história singular tal como o título indica. Uma história muito pessoal.


Pedro Carneiro parte para o Algarve, segue por Beja, passa por Mértola, acaba por descer o Guadiana até à foz, Vila Real de Santo António. Por fim, chega ao destino esperado, Faro, onde tem alguém à sua espera cujo nome é Monsenhor Romualdo Simas. É recebido com o máximo respeito e valor.
Entra. A casa está acesa apenas à base de velas e são desligadas as lanternas. Este ambiente deve-se ao facto de a mãe, de Monsenhor Simas e das suas três irmãs, ter morrido naquele mesmo dia. Havia comida na mesa, mas não era possível ver quase nada com a fraca luminosidade. O corpo da morta estava num quarto onde as pessoas estavam a rezar e lamentar a triste morte. De repente, quando Pedro Monteiro e Monsenhor Simas estavam junto ao caixão, entram três pessoas mascaradas. Começam por andar à volta do caixão, fazem ruídos, gritam, saltam, pregam sustos com o intuito de acordar a morta. Três disfarces esses que eram a D. Faustina, a D. Sebastiana e a D. Prudência. Assustado com toda esta loucura, Pedro Monteiro pede a Monsenhor Simas que o leve ao quarto. Assim que chega ao quarto, dá por falta do seu baú. Os dois vão, então, buscar o baú que ainda continuava com o criado desde que chegara.
Era um baú pesadíssimo onde Pedro Monteiro dizia conter apenas roupa, mas Monsenhor Simas teimava que aquele peso todo não podia ser só roupa e obriga-o a abrir o baú. Nisto, Pedro desce as escadas a correr e vai à procura de outro local onde se hospedar. Durante toda a noite, anda pelas ruas de Faro, até que, já ao amanhecer, encontra uma hospedaria. Acomodou-se e dormiu. Acordou muitíssimo tarde e nisto chama o criado, afilhado de Monsenhor Simas, e pergunta-lhe pelo baú. Ao jantar, sentou-se ao lado de Dr. Ximenes, má-língua conhecido em Viana. Foi um jantar longo onde puderam até falar sobre o escrivão de Fazenda, um que veio para o Algarve acreditando que iria encontrar uma moura, visto que o Algarve é conhecido por uma das suas lendas, “a lenda da moura encantada” dos pescadores de Olhão. Depois do jantar, foi deitar-se. Escreveu uma carta ao tio a pedir transferência para o Minho.
No dia seguinte, foi à repartição onde foi friamente recebido. O escrivão não era uma pessoa muito afável. Via Pedro como um rival. Pedro saiu da hospedaria e viveu fugido durante uns meses. Aprendeu a pescar e ganhou gosto pela pesca. Um dia, aceitou o convite de Monsenhor Simas para o levar a conhecer as serras algarvias. Pararam em Estói, onde visitaram o palácio de Carvalhal. Almoçaram por lá. De seguida, seguiram para São Brás, onde praticamente a vegetação é nula. Fizeram uma leve refeição de carnes frias e regressaram à tarde para Faro, parando novamente em Estói.
Tempos depois, aceitou outro convite. Mas desta vez foram todos. A compostura de Monsenhor Simas e das suas manas era tão completa que se tornava difícil saber se tudo aquilo era realidade. Rapidamente reparou que algo de estranho e anormal se andava a tramar naquela casa. Todos os quatro irmãos se olhavam entre si com olhares estranhos. Algo que se passasse referia-se a obras no quintal, onde nunca mais levaram Pedro, dizendo que era “surpresa”, repetindo a palavra “momento” ou até “o que dirão?”. A princípio, podia dizer-se que parecia uma capela.
Em meados de Agosto, Pedro recebeu notícias do seu tio, dizendo que já era certa a sua transferência para Braga. Decidiu sair de Faro no último dia do mês.
No dia 29, às 15:00h, ficou de aparecer na festa de inauguração da tão falada obra. Estava presente, entre os convidados, o Vigário-Geral. Pedro Monteiro ficou sentado na mesa de D. Sebastiana que o repreendeu pelo atraso. Havia uma escultura colorida que representava a cabeça ensanguentada de São João Baptista dentro de um prato redondo. D. Sebastiana parecia muito inquieta. Foi de imediato perguntar se o Reverendo Padre queria o “cafezinho”. Este, com toda a ingenuidade, disse-lhe que sim. D. Sebastiana dirigiu-se então para o interior da casa, voltando minutos a seguir.
Pouco depois, os convidados foram visitar a cerca. D. Sebastiana muito graciosa ofereceu o braço ao Vigário. O Vigário dizia-se mal disposto. Aproximaram-se da construção, a qual estava pintada de cor-de-rosa. Todos queriam saber o que era. Uma capela? Um pombal?
Não. Era uma privada, uma casa de banho. O sistema “Dilúvio”. Ou por sugestão do local ou por qualquer outro motivo, via-se a cara do Vigário ficar amarela, verde e gritando: “ai, ai, ai que dor”, pondo as mãos na barriga. Levantando-lhe a batina e desabotoando as cuecas, D. Sebastiana sentou-o no buraco da retrete. Não havia meio de aquilo passar. As irmãs começaram a ficar nervosas, “Querem ver que foi de mais?”, e apenas pediam para que se chamasse um médico rápido. Veio a saber-se que tinham colocado tártaro no café para que fizesse o efeito necessário a se utilizar o sistema “Dilúvio”. O Vigário ficou em perigo de vida, mas ligava-se pouco a isso na cidade. Apesar de tudo, a cotação de Monsenhor Simas e das suas manas subiu na estima dos seus conterrâneos.

A leitura deste conto fez-me reflectir sobre a ansiedade das pessoas em quererem muito uma coisa e as acções darem para o lado oposto. As coisas nem sempre correm como esperamos e, por vezes, acontece mesmo aquilo que não queremos.

Tatiana Cardoso Nascimento, 12º A1

Sem comentários:

Enviar um comentário