BIBLIBLOGUE ESJAC - TAVIRA

Blogue da Biblioteca da Escola Secundária do Agrupamento de Escolas Dr. Jorge Augusto Correia - Tavira. "LER É SONHAR PELA MÃO DE OUTREM." Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Reflexão sobre os critérios de apreciação da moralidade dos actos humanos

Fruto do trabalho desenvolvido no âmbito do desafio do Dia Internacional da Filosofia 2010, pela professora Alberta Fitas e os seus alunos do 10º ano, aqui publicamos uma reflexão de um aluno.


Análise do acontecimento ocorrido no metro de Nova Iorque

Depois de ter tomado conhecimento da notícia do acidente em que um homem desmaiou, caiu para cima da linha-férrea do metro e foi salvo por outro senhor, pude reflectir sobre o acontecimento. Passo a explicar mais detalhadamente o sucedido: Cameron Holopeter ao desmaiar caiu em cima dos carris e outro senhor, chamado Wesley Autrey, ao ver o metropolitano aproximar-se, saltou para cima do outro senhor, de modo a protegê-lo entre os carris.

O acto de coragem do Sr. Autrey foi instintivo e não foi ponderado, logo não pode ser considerado uma acção. No entanto, Wesley tinha a intenção de salvar o outro senhor e tinha um motivo, que era fazer o mais correcto. Mas não sendo um acto deliberado, como pode ter uma intenção e motivo? Pode dizer-se que a escolha foi condicionada por factores culturais, visto que o Sr. Autrey “agiu” inconscientemente de acordo com os valores da sociedade já adquiridos por ele. Ao reagir, não calculou as consequências, muito provavelmente mortais, e tomou a decisão mais correcta que, possivelmente, não teria tomado se ponderasse. Ou seja, não houve liberdade de escolha (excluindo-se o livre-arbítrio), podendo ter sido pré-determinada por vários factores (Determinismo) ou completamente aleatória (Indeterminismo). Eu penso que a doutrina que se adequa a este acontecimento é o Determinismo, pois a atitude de Wesley resultou de valores que interiorizou e de uma personalidade corajosa e perspicaz (factores psicológicos). Também se pode dizer que foi condicionado por factores físicos, por ser ele a estar naquele local e naquele instante, tendo uma oportunidade exclusiva. No entanto, pode ter decidido, num ápice, a atitude correcta, pois poderia ter optado por não arriscar (caso tivesse tempo para decidir), e ,desse modo, a Teoria do Determinismo Moderado é adequada à descrição. Nesse caso, o Libertismo também poderia corresponder mas, na minha opinião, seria o Determinismo Moderado a corrente mais presente neste acidente porque relaciona a opção tomada por ele e o condicionamento de vários factores já referidos.

Pode-se concluir que foi uma boa acção, mas segundo os princípios de Stuart Mill ou de Immanuel Kant? De facto, ambos são adequados, pois qualquer um dos dois nos permite compreender e avaliar o que está a ser analisado.

Uma boa acção, segundo o princípio de Mill, é aquela que proporciona mais felicidade a um maior número de pessoas, que é o que se aplica neste caso: Cameron foi salvo, Wesley ganhou satisfação pessoal, a família e amigos decerto que ficaram muito contentes e as pessoas em geral, porque a sociedade tenta seguir este exemplo heróico. Desta maneira, melhora o bem-estar (obedece às regras de Mill). Caso Wesley não tivesse salvo Cameron, poderia arrepender-se da sua opção e iria ficar infeliz, tal como a família e amigos. Desse jeito, não seria considerado uma boa acção, segundo o princípio da maior felicidade.

Porém, se o sucedido for observado pelo ponto de vista de Immanuel Kant, também se pode considerar uma boa acção já que Wesley Autrey age de acordo com o que considera o seu dever e a atitude mais correcta. Se não tivesse salvo Cameron Holopeter, não teria sido a atitude mais correcta e não poderia ser considerada uma boa acção, porque a intenção do agente não corresponderia à alternativa mais correcta. Nesta ocorrência, pode-se dizer que para além de ter agido segundo o dever, respeitou os direitos das pessoas (direito à vida) e fez o mais correcto que assim seria considerado em todo o mundo. A coragem é um valor que se considera absoluto e objectivo, visto que todas as pessoas consideram o valor positivo, independentemente das épocas e lugar no mundo.

Pode-se concluir que o acontecimento ocorrido no metro é uma boa acção de todos os pontos de vista, o que não acontece com todas as acções.

Também se pode dizer que os valores afectam as nossas acções que, por sua vez, caracterizam a nossa maneira de ser, ou seja, os valores podem ser considerados factores que afectam a nossa personalidade, porque agimos segundo os nossos próprios valores e de maneira distinta.


Miguel Figueira, nº19-10ºA1

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