Sessenta e seis anos de vida foram suficientes para que Ana Luísa Amaral (1956-2022) compusesse 17 livros de poesia e outros tantos em género narrativo ou dramático.
O
Olhar diagonal das coisas é uma compilação de toda a sua obra poética
desde Minha Senhora de Quê (1990) a Mundo (2021) que permite detetar a
constância de estilo e o contínuo inusitado captar de um quotidiano de escrita,
reflexão, retoma criativa de metáforas, símbolos e expressões que marcaram distintivamente
a literatura universal ou a literatura portuguesa. Uma expressão de Fernão
Lopes é apenas um dos exemplos: “Ora esguardae,/ escreveu o outro,/ quando dele
falou nas suas crónicas”. (“ O retrato”, in Vozes).
Uma coletânea a folhear, ler um ou outro poema
e a ela voltar, descobrindo sempre uma renovada visão sobre as coisas. A mais
recente que descobri foca um tema bem atual: a inteligência artificial:
IA
Parei-lhe
o coração
Soltei-o
da corrente
Assassinei-lhe
Inteligência
certa
Se
ele ressuscitar,
O
transplante será
por minha mão:
não
pelo seu desejo
de
ser gente.
O Olhar Diagonal da Coisas, p. 1331
Ana Cristina
Matias
(Professora de Português
e professora bibliotecária)
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