“Convém,
assim, perguntar, o que perdemos com aquilo de que prescindimos e o que
ganhámos com aquilo que conquistámos. Ganhámos imaterialidade, em certo
sentido, e com ela ganhámos velocidade e ubiquidade da nossa presença simbólica
[…]. E com a velocidade ganhámos aceleração[…] . Mas perdemos tudo o que não
tem imediatamente a ver com os dois sentidos do ouvido e da visão: o que tem a
ver com o tato, com o olfato e com o gosto. E perdemos também a lentidão, que é
o tempo da germinação criativa e da assimilação, o tempo dos afetos e do amor,
o tempo da natureza, que Lamberto Maffei meditou no seu Elogio della
lentezza; perdemos o peso, que é a dimensão da corporeidade e da densidade
conceptual, perdemos a capacidade de sentir a temperatura, ou seja, o calor dos
outros e dos acontecimentos, perdemos a noção do invisível e do mistério que
nos remete para o outro lado do que nos é acessível e do que está à nossa
disposição, e perdemos até a capacidade de escuta que não é facilmente
compatível com a velocidade e com a aceleração. Diria, por isso, também com
Hartmut Rosa, filósofo da Universidade de Jena, que perdemos a capacidade de
ressonância (que ele propõe como antídoto à aceleração), de entrar em
ressonância com o mundo e com os outros, com a natureza e com o que a
transcende, com o tempo e com as suas infinitas modulações, com os afetos e as
teias que eles entretecem.”
João Maria André
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